O que o Papa ofereceu ao mundo

No aniversário de Bento XVI e na proximidade do aniversário da sua eleição, publica-se uma das melhores prendas que o Papa ofereceu ao mundo nestes anos: a sua pregação. Selecção de discursos e homilias destes 5 anos de pontificado.

1. INÍCIO DE PONTIFICADO: VOCAÇÃO

Agora, neste momento, eu, débil servo de Deus, tenho que assumir este mandato inaudito, que realmente supera toda a capacidade humana. Como posso fazê-lo? Como serei capaz de o fazer? Todos vós, queridos amigos, acabastes de invocar toda a multidão dos santos, representada por alguns dos grandes nomes da história de Deus com os homens. Deste modo, também em mim se reaviva esta consciência: não estou só. Não tenho que levar sozinho o que, na realidade, nunca poderei levar sozinho. A multidão dos santos de Deus protege-me, apoia-me e conduz-me. E acompanham-me, queridos amigos, a vossa indulgência, o vosso amor, a vossa fé e a vossa esperança.

Porventura não temos todos nós, de algum modo, medo – se deixarmos entrar Cristo totalmente dentro de nós, se nos abrirmos totalmente a Ele – medo de que Ele possa tirar-nos algo da nossa vida? Não temos porventura medo de renunciar a algo de grandioso, único, que torna a vida mais bela? Não corremos o risco de nos encontrarmos depois na angústia e privados da liberdade? E mais uma vez o Papa queria dizer: Não! Quem deixa entrar Cristo não perde nada, nada – absolutamente nada – do que torna a vida livre, bela e grande. Não! Só nesta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só nesta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só nesta amizade experimentamos o que é belo e o que nos liberta. Assim, hoje, gostaria, com grande força e grande convicção, a partir da experiência de uma longa vida pessoal, dizer a todos vós, queridos jovens: Não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada e dá tudo. Quem se dá a Ele, recebe o cento por um. Abri, sim abri, escancarai as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira.

Mais informação: Biografia de Bento XVI RATZINGER, Papa Bento XVI Os desafios de Bento XVI , artigo de D. Javier Echevarría, publicado no jornal diário "Clarín", Argentina, em 9 de Maio de 2005 Bento XVI, um Papa para o futuro (19 de Abril de 2005)

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2. JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE NA ALEMANHA: EUCARISTIA

Não vos deixeis dissuadir de participar na Eucaristia dominical e ajudai também os outros a descobri-la. Certamente, para que dela emane a alegria da qual necessitamos, devemos aprender a compreendê-la cada vez mais profundamente, devemos aprender a amá-la. Comprometamo-nos com isso, vale a pena! Descubramos a profunda riqueza da liturgia da Igreja e a sua verdadeira grandeza: não somos nós quem faz festa para nós, mas ao contrário, é o próprio Deus vivo que nos prepara uma festa. Com o amor à Eucaristia redescobrireis também o sacramento da Reconciliação, no qual a bondade misericordiosa de Deus permite sempre iniciar de novo a nossa vida.

Quem descobriu Cristo deve levar os outros até Ele. Uma grande alegria não se pode guardar para si mesmo. É necessário transmiti-la. Em muitas partes do mundo existe hoje um estranho esquecimento de Deus. Parece que tudo pode funcionar do mesmo modo sem Ele. Mas simultaneamente existe também um sentimento de frustração, de insatisfação de tudo e de todos. Dá vontade de exclamar: Não é possível que a vida seja assim! Na verdade não.

Podeis recobrar a experiência vibrante da oração como diálogo com Deus, que sabemos que nos ama e a Quem, ao mesmo tempo, queremos amar. Gostaria de dizer a todos insistentemente: abri o vosso coração a Deus, deixai surpreender-vos por Cristo. Dai-Lhe o «direito a falar-vos» durante estes dias. Abri as portas da vossa liberdade ao Seu amor misericordioso. Apresentai as vossas alegrias e as vossas penas a Cristo, deixando que Ele ilumine com a Sua luz a vossa mente e acaricie com a Sua graça o vosso coração. Nestes dias benditos de alegria e de desejo de partilhar, fazei a experiência libertadora da Igreja como lugar da misericórdia e da ternura de Deus para com os homens. Na Igreja e por intermédio da Igreja chegareis a Cristo que vos espera.

Mais informação:

- "Dos jovens dependem muitas coisas grandes" , entrevista concedida por D. Javier Echevarría à agência de notícias Zenit, na qual o prelado do Opus Dei faz um balanço da Jornada Mundial da Juventude de Colónia.

- Catequese com o prelado do Opus Dei em Colónia * * *

3.

JORNADA DAS FAMÍLIAS EM VALÊNCIA: A FAMÍLIA

A família é uma instituição intermédia entre o indivíduo e a sociedade e nada a pode substituir totalmente. Ela própria apoia-se, sobretudo, numa profunda relação interpessoal entre o esposo e a esposa, apoiada pelo afecto e compreensão mútuos. Para isso recebe abundante ajuda de Deus no sacramento do Matrimónio, que supõe uma verdadeira vocação à santidade. Oxalá que os filhos contemplem mais os momentos de harmonia e afecto dos pais, do que os de discórdia ou distanciamento, pois o amor entre o pai e a mãe oferece aos filhos uma grande segurança e mostra-lhes a beleza do amor fiel e duradouro.

Juntamente com a transmissão da fé e do amor do Senhor, uma das tarefas maiores da família é a de formar pessoas livres e responsáveis. Por isso os pais hão-de ir devolvendo aos seus filhos a liberdade, da qual, durante algum tempo, são tutores. Se estes vêem que os seus pais – e em geral os adultos que os rodeiam – vivem a vida com alegria e entusiasmo, inclusivamente apesar das dificuldades, crescerá neles, mais facilmente, esse gozo profundo de viver que os ajudará a superar, com acerto, os possíveis obstáculos e contrariedades que envolve a vida humana.

Mais informação:

Vídeo do Encontro Mundial da Família em Valência Álbum fotográfico do Encontro Mundial da Família em Valência Vídeo da entrevista realizada pela cadeia Popular Televisión a D. Javier Echevarría na sua visita a Espanha por ocasião do Encontro Mundial da Família Página oficial do Encontro Mundial da Família em Valência * * *

4.

DISCURSO NA UNIVERSIDADE DELLA SAPIENZA: RAZÃO E FÉ

Hoje, o perigo do mundo ocidental — por falar apenas deste — é que o homem, precisamente tendo em conta a grandeza do seu saber e do seu poder, desista diante da questão da verdade. E isso significa ao mesmo tempo que, no fim de contas, a razão ceda face à pressão dos interesses e à atracção da utilidade, obrigada a reconhecê-la como critério último (...). Se a razão, zelosa da sua presumida pureza, se faz surda à grande mensagem que lhe vem da fé cristã e da sua sabedoria, seca como uma árvore cujas raízes já não recebem as águas que lhe dão vida. Perde a valentia pela verdade e assim não se faz maior, mas mais pequena. Isso, aplicado à nossa cultura europeia, significa: se ela quiser  construir-se a si própria unicamente com base no círculo das suas próprias argumentações e naquilo que de momento a convence e, preocupada com a sua laicidade, se separa das raízes de que vive, então já não se torna mais racional nem mais pura, mas decompõe-se e fragmenta-se.

O que é que o Papa tem a fazer ou a dizer na universidade? Seguramente não deve procurar impor de modo autoritário aos outros a fé, que só pode ser oferecida em liberdade. Para além do seu ministério de Pastor na Igreja e com base na natureza intrínseca deste ministério pastoral, tem a missão de manter desperta a sensibilidade pela verdade; convidar sempre de novo a razão pôr-se à procura da verdade, do bem, de Deus e, neste caminho, estimulá-la a descobrir as luzes úteis que foram surgindo ao longo da história da fé cristã e a sentir, assim, Jesus Cristo como a Luz que ilumina a história e ajuda a encontrar o caminho para o futuro.

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5.

SACRAMENTUM CARITATIS

A beleza da liturgia é (...) expressão altíssima da glória de Deus e constitui, de certa forma, um assomar do Céu sobre a terra. O memorial do sacrifício redentor traz em si mesmo os traços daquele esplendor de Jesus do qual nos deram testemunho Pedro, Tiago e João quando o Mestre, a caminho de Jerusalém, quis transfigurar-Se diante deles (cf. Mc 9,2). A beleza, portanto, não é um elemento decorativo da acção litúrgica mas um seu elemento constitutivo, enquanto atributo do próprio Deus e da Sua revelação. Tudo isto nos há-de tornar conscientes da atenção que se deve prestar à acção litúrgica paraque resplandeça segundo a sua própria natureza.

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6.

ENCÍCLICA DEUS CARITAS EST Nós cremos no amor de Deus : assim pode exprimir o cristão a opção fundamental da sua vida. Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou por uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva. (...) Num mundo em que por vezes se relaciona o nome de Deus com a vingança ou mesmo com a obrigação do ódio e da violência, esta é uma mensagem de grande actualidade e com um significado muito concreto. Por isso, na minha primeira Encíclica desejo falar do amor com o qual Deus nos enche e que nós devemos comunicar aos outros.

A história do amor entre Deus e o homem consiste precisamente no facto de que  esta comunhão de vontade cresce em comunhão de pensamento e de sentimento e, assim, o nosso querer e a vontade de Deus coincidem cada vez mais: a vontade de Deus já não é para mim algo estranho que os mandamentos me impõem de fora, mas é a minha própria vontade, baseada na experiência de que Deus está mais dentro de mim do que aquilo que me é mais íntimo. Cresce então o abandono em Deus e Deus torna-Se a nossa alegria.

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7.

ENCÍCLICA SPES SALVI

Elemento distintivo dos cristãos [é] o facto que eles têm um futuro: não é que conheçam os pormenores do que os espera, mas sabem em termos gerais que a sua vida não acaba no vazio. Só quando o futuro é certo como realidade positiva, é que se torna possível viver também o presente. Deste modo, podemos dizer agora: o cristianismo não era somente uma «boa nova», uma comunicação de conteúdos até então desconhecidos. Em linguagem actual dir-se-ia: a mensagem cristã não era só «informativa», mas «performativa». Isso significa que o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que implica actos e muda a vida. A porta obscura do tempo, do futuro, foi aberta de par em par. Quem tem esperança vive de outra maneira; foi-lhe dada uma vida nova.

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8.

ENCÍCLICA CARITAS IN VERITATE

Só através da caridade, iluminada pela luz da razão e da fé , é possível atingir objectivos de desenvolvimento com um carácter mais humano e humanizador. A partilha dos bens e recursos, da qual deriva o autêntico desenvolvimento, não é assegurada pelo simples progresso técnico e por meras relações de conveniência, mas pela força do amor que vence o mal com o bem (cf. Rm 12,21) e abre a consciência do ser humano a relações recíprocas de liberdade e de responsabilidade.

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9.

VERONA: CULTURA E EDUCAÇÃO

Uma educação verdadeira deve suscitar a coragem das decisões definitivas, que hoje se consideram um vínculo que limita a nossa liberdade, mas que na realidade são indispensáveis para crescer e alcançar algo grande na vida, especialmente para que amadureça o amor em toda a sua beleza: portanto, para dar consistência e significado à nossa liberdade.

Desta solicitude pela pessoa humana e pela sua formação brotam os nossos "não" a formas frágeis e deturpadas de amor e às falsificações da liberdade, bem como à redução da razão apenas ao que se pode calcular e manipular. Na realidade, estes "não" são antes "sim" ao amor autêntico, à realidade do homem tal como foi criado por Deus.

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10.

E.U.A.: CONVERSÃO

São Paulo, como ouvimos na segunda leitura, fala de uma espécie de oração que brota das profundidades dos nossos corações com suspiros demasiado profundos para serem expressos com palavras, com “gemidos” ( Rm 8,26) inspirados pelo Espírito. Esta é uma oração que deseja fortemente, no meio da tribulação, o cumprimento das promessas de Deus. É uma oração de esperança inesgotável, mas também de perseverança paciente e, por vezes, acompanhada pelo sofrimento pela verdade. Através desta oração participamos no mistério da própria debilidade e sofrimento de Cristo, enquanto confiamos firmemente na vitória da Sua Cruz. Que a Igreja na América, com esta oração, empreenda cada vez mais o caminho da conversão e da fidelidade ao Evangelho. E que todos os católicos experimentem o consolo da esperança e os dons da alegria e da força infundidos pelo Espírito.

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11.

ÁFRICA: A DOR

Face à presença de sofrimentos atrozes, sentimo-nos desarmados e não encontramos as palavras adequadas. Diante de um irmão ou de uma irmã imerso no mistério da Cruz, o silêncio respeitoso e compassivo, a nossa presença apoiada pela oração, um olhar, um sorriso, podem valer mais do que muitas explicações. Um pequeno grupo de homens e mulheres viveu esta experiência, entre eles a Virgem Maria e o Apóstolo João, que seguiram Jesus até ao cume do Seu sofrimento na paixão e morte na cruz. Entre eles, diz-nos o Evangelho, havia um africano, Simão de Cirene.

Acaso não se poderá dizer que todo o africano é, de algum modo membro da família de Simão de Cirene? Todos os africanos e todas as pessoas que sofrem ajudam Cristo a levar a sua Cruz e sobem com Ele ao Gólgota para ressuscitar um dia com Ele. Ao ver a infâmia que se faz a Jesus, contemplando o Seu rosto na Cruz e reconhecendo a atrocidade da Sua dor, podemos vislumbrar, pela fé, o rosto radiante do Ressuscitado que nos diz que o sofrimento e a doença não terão a última palavra na nossa vida humana.

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12.

FRANÇA: CHAMAMENTO AO SACERDÓCIO

Permiti-me lançar aqui um apelo cheio de confiança na fé e na generosidade dos jovens que colocam a questão da vocação religiosa ou sacerdotal: Não tenhais medo! Não tenhais medo de dar a vida a Cristo! Nada jamais poderá substituir nunca o ministério dos sacerdotes no coração da Igreja. Nada jamais poderá substituir uma Missa pela salvação do mundo. Queridos jovens ou não tão jovens que me escutais, não deixeis sem resposta a chamada de Cristo.

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13.

LOURDES: A VIRGEM

Maria vem ao nosso encontro como a Mãe, sempre disponível para as necessidades dos seus filhos. Mediante a luz que brota do seu rosto, transparece a misericórdia de Deus. Deixemos que o seu olhar nos acaricie e nos diga que Deus nos ama e nunca nos abandona. Maria recorda-nos aqui que a oração, intensa e humilde, confiada e perseverante deve ter um lugar central na nossa vida cristã. A oração é indispensável para acolher a força de Cristo. “Quem reza não desperdiça o seu tempo, ainda que tudo faça pensar numa situação de emergência e pareça impulsionar apenas a acção” ( Deus caritas est , n. 36). Deixando-se absorver pelas actividades corre-se o risco de retirar à oração a sua especificidade cristã e a sua verdadeira eficácia. A oração do Rosário, tão querida para Bernadette e para os peregrinos em Lourdes, concentra em si a profundidade da mensagem evangélica. Introduz-nos na contemplação do rosto de Cristo. Desta oração dos humildes podemos retirar abundantes graças.

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14.

ANO SACERDOTAL

O Sacerdócio é o amor do coração de Jesus ”, repetia com frequência o Santo Cura d’Ars [2] . Esta comovedora afirmação permite-nos, antes de mais nada, reconhecer com ternura e gratidão o dom imenso que são os sacerdotes, não só para a Igreja, mas também para a própria humanidade. Tenho presente todos os presbíteros que, com humildade, repetem todos os dias as palavras e os gestos de Cristo aos fiéis cristãos e ao mundo inteiro, identificando-se com os Seus pensamentos, desejos e sentimentos, bem como com o Seu estilo de vida. Como não destacar os seus esforços apostólicos, o seu serviço incansável e oculto, a sua caridade que não exclui ninguém? E que dizer da fidelidade corajosa de tantos sacerdotes que, apesar das dificuldades e incompreensões, perseveram na sua vocação de “amigos de Cristo”, chamados pessoalmente, escolhidos e enviados por Ele?

Mais informação:

Especial por ocasião do Ano Sacerdotal convocado por Bento XVI (19.VI.2009-2010).

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15.

ANO PAULINO

Num mundo no qual a mentira é poderosa, a verdade paga-se com o sofrimento. Quem quer fugir do sofrimento, mantê-lo afastado de si, está afastado da própria vida e da sua grandeza; não pode ser servidor da verdade nem pode servir a fé. Não há amor sem sofrimento, sem o sofrimento da renúncia de si próprio, da transformação e purificação do eu pela verdadeira liberdade. Onde não há nada por que valha a pena sofrer, também a própria vida perde o seu valor. A Eucaristia – o centro do nosso ser cristãos – fundamenta-se no sacrifício de Jesus por nós, nasceu do sofrimento do amor que na Cruz encontrou o seu cume. Nós vivemos deste amor que se doa. Isso infunde-nos a coragem e a força para sofrer com Cristo e por Ele neste mundo, sabendo que precisamente assim a nossa vida se torna grande, madura e verdadeira.

Mais informação:

Ano Paulino: vídeos e textos.

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16.

AUSTRÁLIA: CONVERSÃO

O amor de Deus pode derramar a Sua força só quando lhe permitimos que nos mude por dentro. Temos de O deixar penetrar na dura crosta da nossa indiferença, do nosso cansaço espiritual, do nosso cego conformismo com o espírito do nosso tempo. Só então nos será possível permitir-Lhe que ilumine a nossa imaginação e modele os nossos desejos mais profundos. Por isso é tão importante a oração: a oração diária, a oração privada no recolhimento dos nossos corações e diante do Santíssimo Sacramento e a oração litúrgica no coração da Igreja.

Mais informação:

35 mensagens do Papa em Sidney Vídeo oficial da Jornada Mundial da Juventude de Sidney