Hoje começa o Advento. O cântico de entrada põe nos nossos lábios palavras que são um eco da espera confiada que informa este tempo litúrgico de preparação para o Natal: rorate caeli desuper, et nubes pluant iustum (Domingo I do Advento, Cântico de entrada – Is 45, 6. Destilai, céus, o orvalho do alto, derramai, nuvens, o Justo (…)).
A verdadeira alegria é fruto da identificação, o mais perfeita possível, com a Vontade de Deus. Se não fosse assim, seria frágil, deliquescente, pouco duradouro. "A alegria que deves ter – ensina-nos São Josemaria Escrivá de Balaguer – não é aquela a que podemos chamar fisiológica, de animal sadio, mas uma outra, sobrenatural, que procede de abandonar tudo e de abandonares a ti mesmo nos braços do nosso Pai Deus" (São Josemaria, Caminho, n. 659).
A nossa verdadeira alegria não pode prescindir do conhecimento de que somos pecadores "Se dizemos não ter pecado, enganamo-nos, e não há verdade em nós (1 Jo 1, 8)", admoesta S. João Mas somos pecadores que – como afirmava com frequência o fundador do Opus Dei – amam com loucura Jesus Cristo ou, pelo menos, aspiram a amá-lo assim. Deste modo, as nossas debilidades e faltas poderão servir-nos – através da contrição – para nos aproximarmos d'Ele com novo impulso. Precisamente para este fim institui Nosso Senhor os sacramentos da Penitência e da Eucaristia, a que todos devemos acudir assiduamente, e que foram confiados à Igreja.
A primeira leitura recolhe uma oração dirigida em nome dos israelitas, que tantas vezes tinham sido infiéis à aliança de amor que Deus estabelecera com o povo eleito. Isaías reconhece as ofensas cometidas e pede perdão, consciente da realidade que é e será sempre a fonte máxima de confiança: somos filhos de Deus. É uma petição que podemos tornar nossa, porque se adapta perfeitamente às necessidades de cada um..
Vós, Senhor, sois nosso Pai! Nosso Redentor é, desde sempre, o vosso nome. Porque nos deixais, Senhor, desviar dos Vossos caminhos e endurecer os corações ante o Vosso temor? Voltai, por amor dos Vossos servos(…). Oxalá rasgásseis os céus e descêsseis; e, ante a Vossa face, os montes ruiriam (Primeira leitura – Is 63, 16-19 ).
O que o profeta desejava ardentemente – que se abrissem os céus – aconteceu verdadeiramente há dois mil anos com a Encarnação do Filho de Deus. A nossa esperança tem um fundamento bem sólido: o Verbo eterno, por nós, homens, e para a nossa salvação, fez-se homem, por obra do Espirito Santo, no seio da Virgem Maria.
Demos graças a Deus, irmãs e irmãos queridíssimos, por esta divina condescendência e procuremos corresponder ao seu amor infinito com o oferecimento do amor de que sejamos capazes. Talvez pareça pouco, mas esse pouco temos de o dar a Nosso Senhor sem reservas (…)
O Advento é tempo de fervorosa esperança. Mas também propõe, sobretudo nas primeiras semanas, a necessidade de não se deixar levar pelo sonho da mediocridade e da tibieza. Estai de sobreaviso, vigiai – diz-nos hoje Jesus no Evangelho – porque vós não sabeis quando será o momento (Mc 13, 33): isto é, o momento em que Nosso Senhor nos pedirá contas da nossa vida, de como gastámos os dons recebidos. Estamos conscientes de que Deus espera de nós amor e serviço aos outros nas circunstâncias em que nos encontramos?
No primeiro domingo do Advento, a Igreja transmite-nos este ensinamento com palavras de Jesus Cristo no Evangelho: será como um homem que, empreendendo uma viagem, deixou a sua casa, delegou a autoridade aos seus servos, indicando a cada um a sua tarefa, e ordenou ao porteiro que estivesse vigilante. Vigiai, pois, visto que não sabeis quando virá o senhor da casa, para que, vindo de repente, não vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai! (Mc 13, 34-37)