8. Que espécie de pensamento político tinham os primeiros membros do Opus Dei?

Eram na sua maioria jovens de diferentes cursos, de procedências geográficas variadas e de tendências e sensibilidades políticas diversas. Cada um, como qualquer outro católico, elegia em consciência uma opção política ou, simplesmente, mantinha-se à margem. S. Josemaria nunca falava de política, nem perguntava pelas inclinações políticas de aqueles que falavam com ele.

Na residência DYA, que S. Josemaria tinha aberto na rua Ferraz, fomentava-se o respeito pelas opiniões de todos. Nada impedia, portanto, que entre os primeiros membros da Obra e entre as pessoas que participavam nas actividades apostólicas houvesse simpatizantes de diferentes formações políticas, como os nacionalistas bascos (PNV), as Juventudes de Acção Popular (JAP), a primeira Falange ou a Associação Escolar Tradicionalista.

As peculiares circunstâncias políticas da II República - com o crescente anti-clericalismo das formações de esquerda, germe ideológico da perseguição religiosa - tornavam muito difícil naqueles momentos que os católicos se vinculassem a formações políticas da esquerda.

François Gondrand, no seu ensaio El Fundador del Opus Dei y su actitud ante el poder estabelecido que se inclui em www.opusdei.org, escreve o seguinte:

«Com os braços abertos a todos e respeitando sempre a liberdade de cada pessoa, o Pe. Josemaria não fazia nenhuma declaração partidária sobre a situação política que o rodeava. Os jovens que o seguiam tinham filiações políticas muito diversas e às vezes antagónicas: havia entre eles nacionalistas, monárquicos que estavam cada vez mais em desacordo com o governo constituído, católicos bascos de forte sentido republicano e defensores de suas “liberdades pátrias”, etc.

“O Padre”, como todos lhe chamavam, não fazia alusões às livres opções de cada um, mas pedia-lhes, isso sim, que não falassem de questões políticas naquela casa aonde iam para melhorar a sua formação cristã. Explicava-lhes que o trabalho apostólico que levava a cabo não era, de modo nenhum, uma resposta à situação político-religiosa que atravessava o país. “A Obra de Deus - dizia - não foi imaginada por um homem, para resolver a situação lamentável da Igreja em Espanha desde 1931”. “Não somos uma organização circunstancial” - recalcava - (...) “nem vimos resolver uma necessidade particular de um país ou de um tempo determinados, porque Jesus quer a sua Obra desde o primeiro momento com entranha universal, católica”. “O vínculo que vos une - insistia o fundador - é de natureza exclusivamente espiritual (...) O que descarta qualquer ideia ou intenção política ou partidária”.

Escrivá limitava-se a ensinar - e isso já era muito - a mensagem do Opus Dei, que convoca aos cristãos para se santificarem no meio do mundo e esforçar-se por viver o chamamento evangélico com todas as suas consequências, lembrando-lhes as palavras do Senhor: “Sede perfeitos como o vosso Pai Celestial é perfeito”. Não lhes oferecia um receituário de reformas sociais, nem um programa político determinado. Sabia - e lembrava - que o esforço por transformar a sociedade, para fazê-la mais fiel aos valores evangélicos, é uma tarefa que corresponde a cada fiel cristão em particular. É o cristão corrente que deve formular e propor, com total responsabilidade, as consequências sociais concretas que, na sua opinião pessoal, leva implícita essa mensagem».