“Álvaro del Portillo foi um homem ao serviço da Igreja”

As cerimónias do centenário de nascimento de Álvaro del Portillo no Oratório de Bonaigua (Barcelona) começaram na passada quinta-feira com a intervenção de Mons. Pedro Rodríguez, Professor de Teologia na Universidade de Navarra e Académico da Pontifícia Academia de São Tomás. Na conferência disse: Álvaro del Portillo cumpriu os encargos da Santa Sé “com decisão, clareza, serenidade e empenho”.

A trajetória de Álvaro del Portillo foi “um sacrificado serviço à Igreja”, levado a cabo com “decisão, clareza, serenidade e interesse”, referiu Pedro Rodríguez. Perante umas 250 pessoas, explicou que Álvaro del Portillo “tinha una inteligência preclara, uma invejável capacidade de trabalho e uma serenidade surpreendente; talentos que, com grande simplicidade, seguindo os conselhos de São Josemaria, colocou desde o primeiro momento ao serviço da causa de Deus".

Álvaro del Portillo – explicava Rodríguez – chegou a Roma com doutoramentos em Engenharia Civil e em Filosofia, e ali obteve um terceiro doutoramento: em Direito Canónico. “Del Portillo preparava-se assim, entre outras coisas, para algo que ia ser determinante em toda a sua vida: ajudar o Fundador do Opus Dei na formosa e sofrida batalha de abrir o caminho teológico, institucional e jurídico do Opus Dei”. Pouco tempo depois Pio XII nomeou-o membro da comissão para a aplicação da constituição Provida Mater Ecclesia, e esse foi o primeiro de uma longa cadeia de encargos durante cinco pontificados.

Perante umas 250 pessoas, D. Pedro Rodríguez explicou que Álvaro del Portillo “tinha uma inteligência preclara, una invejável capacidade de trabalho e uma serenidade surpreendente; talentos que com grande simplicidade, seguindo os conselhos de São Josemaria, colocou desde o primeiro momento ao serviço da causa de Deus'. Foto: J.M. Pons

O professor da Universidade de Navarra explicou que embora incentivasse outros a seguir a carreira universitária, “os que o conhecemos sabemos que Álvaro del Portillo nunca quis fazer a 'carreira' que ao longo da história condicionou tantos eclesiásticos”, porque “aquele sacerdote só tinha olhos para Jesus Cristo e a Sua Igreja”. Para Rodríguez, “esta atitude de Álvaro, unida à doçura e bondade do seu caráter, provocava nas pessoas que com ele conviviam uma síntese de respeito e confiança amigável”. A maior parte dos textos que escreveu “passarão inadvertidos à opinião pública”, pois a investigação de Álvaro del Portillo levou-o a escrever mais de mil pareceres dirigidos aos prelados e aos peritos, especialmente durante a sua participação no Concilio Vaticano II.

O Académico romano explicou que Álvaro del Portillo não procurou sobressair e falava apenas o necessário, mas “quando o procuravam estava disponível, e procuravam-no muitas vezes porque a sua palavra era profunda e acertada, e o seu trabalho, eficaz: era um homem que resolvia problemas, sabia superar situações complicadas e contagiava segurança”.

Sala de atos do Oratório de Santa Maria de Bonaigua. Foto: J.M. Pons

Para D. Pedro Rodríguez a maturidade da trajetória eclesial de Álvaro del Portillo identifica-se em boa medida com o seu serviço nas tarefas prévias, próprias e posteriores do Concilio Vaticano II. Justamente depois de anunciar o Concílio Vaticano II, a 25 de janeiro de 1959, João XXIII nomeou-o consultor da Congregação do Concílio e presidente do Grupo de trabalho sobre o apostolado dos leigos. A partir desse momento já não deixou de trabalhar ao serviço do Concílio Vaticano II. Foi consultor de diversas Comissões conciliares, como a da Disciplina do clero e o povo cristão.

Aspeto da conferência inaugural das cerimónias do centenário de Álvaro del Portillo no Oratório de Bonaigua (Barcelona). Foto: J.M. Pons

Escreveu 'Fiéis e leigos na Igreja' e 'Escritos sobre o sacerdócio', dois livros “imprescindíveis para entender os Decretos conciliares sobre os leigos e sobre os presbíteros”, explicou Rodríguez. O Professor de Teologia contou também que quando chegou a Roma, em 1967 para, a partir dali, ir a diversos países da Europa com um projeto de investigação sobre a teologia do laicado no Movimento Ecuménico, Álvaro del Portillo lhe entregou um texto de 150 folhas escritas à máquina, em latim. “Tive que o escrever para a Comissão do Código. Pode servir-te para o teu trabalho”. Era um primeiro esboço do que depois seria o livro “Fiéis e leigos na Igreja”. Recomendou-lhe ainda que, quando estivesse na Bélgica, visitasse em Lovaina um grande amigo seu, Mons. Gérard Phillips, que tinha sido Secretário da Comissão conciliar que preparou a Constituição Lumen Gentium. Rodríguez foi visitá-lo com as 150 densas páginas em latim debaixo do braço e voltou com umas anotações que o teólogo de Lovaina lhe entregou sobre o parecer de Álvaro del Portillo.

Em três proposições o professor belga deixou escritas estas palavras sobre o projeto de Álvaro del Portillo para o Código: “Placet: Que se insista sobre a vocação universal dos leigos à santidade, que deve ser expressa também nas leis e nas prescrições jurídicas. Placet: Que o legislador canónico deva reconhecer a igualdade e dignidade de todos os cristãos e proteger os direitos dos leigos e sobretudo que se concebam e promovam dinamicamente. Placet: Que a nenhum homem seja negada a dignidade da pessoa humana e que se reconheça a igualdade da mulher na Igreja e que se esteja disposto a levá-la à prática”. Para Rodríguez esta síntese que Gérard Philips faz define a figura eclesial de Álvaro del Portillo e pode considerar-se emblemática do seu combate teológico-canónico.

Foto. J.M.

O Prof. Rodríguez concluiu a conferência com as palavras que João Paulo II dirigiu a Álvaro del Portillo para o felicitar pelos seus 80 anos, poucos dias antes da sua morte. O Papa manifestava-lhe que a sua vida tinha sido “um trabalho cheio de fidelidade realizado ao serviço da Igreja santa”.

A próxima conferência da Aula de Teologia sobre Álvaro del Portillo que se realiza no Oratório de Bonaigua em Barcelona será na quinta-feira, dia 27 de fevereiro. O Dr. José Luis González Gullón explicará a relação entre Álvaro del Portillo e São Josemaria.