A trajetória de Álvaro del Portillo foi “um sacrificado serviço à Igreja”, levado a cabo com “decisão, clareza, serenidade e interesse”, referiu Pedro Rodríguez. Perante umas 250 pessoas, explicou que Álvaro del Portillo “tinha una inteligência preclara, uma invejável capacidade de trabalho e uma serenidade surpreendente; talentos que, com grande simplicidade, seguindo os conselhos de São Josemaria, colocou desde o primeiro momento ao serviço da causa de Deus".
Álvaro del Portillo – explicava Rodríguez – chegou a Roma com doutoramentos em Engenharia Civil e em Filosofia, e ali obteve um terceiro doutoramento: em Direito Canónico. “Del Portillo preparava-se assim, entre outras coisas, para algo que ia ser determinante em toda a sua vida: ajudar o Fundador do Opus Dei na formosa e sofrida batalha de abrir o caminho teológico, institucional e jurídico do Opus Dei”. Pouco tempo depois Pio XII nomeou-o membro da comissão para a aplicação da constituição Provida Mater Ecclesia, e esse foi o primeiro de uma longa cadeia de encargos durante cinco pontificados.
O professor da Universidade de Navarra explicou que embora incentivasse outros a seguir a carreira universitária, “os que o conhecemos sabemos que Álvaro del Portillo nunca quis fazer a 'carreira' que ao longo da história condicionou tantos eclesiásticos”, porque “aquele sacerdote só tinha olhos para Jesus Cristo e a Sua Igreja”. Para Rodríguez, “esta atitude de Álvaro, unida à doçura e bondade do seu caráter, provocava nas pessoas que com ele conviviam uma síntese de respeito e confiança amigável”. A maior parte dos textos que escreveu “passarão inadvertidos à opinião pública”, pois a investigação de Álvaro del Portillo levou-o a escrever mais de mil pareceres dirigidos aos prelados e aos peritos, especialmente durante a sua participação no Concilio Vaticano II.
O Académico romano explicou que Álvaro del Portillo não procurou sobressair e falava apenas o necessário, mas “quando o procuravam estava disponível, e procuravam-no muitas vezes porque a sua palavra era profunda e acertada, e o seu trabalho, eficaz: era um homem que resolvia problemas, sabia superar situações complicadas e contagiava segurança”.
Para D. Pedro Rodríguez a maturidade da trajetória eclesial de Álvaro del Portillo identifica-se em boa medida com o seu serviço nas tarefas prévias, próprias e posteriores do Concilio Vaticano II. Justamente depois de anunciar o Concílio Vaticano II, a 25 de janeiro de 1959, João XXIII nomeou-o consultor da Congregação do Concílio e presidente do Grupo de trabalho sobre o apostolado dos leigos. A partir desse momento já não deixou de trabalhar ao serviço do Concílio Vaticano II. Foi consultor de diversas Comissões conciliares, como a da Disciplina do clero e o povo cristão.
Escreveu 'Fiéis e leigos na Igreja' e 'Escritos sobre o sacerdócio', dois livros “imprescindíveis para entender os Decretos conciliares sobre os leigos e sobre os presbíteros”, explicou Rodríguez. O Professor de Teologia contou também que quando chegou a Roma, em 1967 para, a partir dali, ir a diversos países da Europa com um projeto de investigação sobre a teologia do laicado no Movimento Ecuménico, Álvaro del Portillo lhe entregou um texto de 150 folhas escritas à máquina, em latim. “Tive que o escrever para a Comissão do Código. Pode servir-te para o teu trabalho”. Era um primeiro esboço do que depois seria o livro “Fiéis e leigos na Igreja”. Recomendou-lhe ainda que, quando estivesse na Bélgica, visitasse em Lovaina um grande amigo seu, Mons. Gérard Phillips, que tinha sido Secretário da Comissão conciliar que preparou a Constituição Lumen Gentium. Rodríguez foi visitá-lo com as 150 densas páginas em latim debaixo do braço e voltou com umas anotações que o teólogo de Lovaina lhe entregou sobre o parecer de Álvaro del Portillo.
Em três proposições o professor belga deixou escritas estas palavras sobre o projeto de Álvaro del Portillo para o Código: “Placet: Que se insista sobre a vocação universal dos leigos à santidade, que deve ser expressa também nas leis e nas prescrições jurídicas. Placet: Que o legislador canónico deva reconhecer a igualdade e dignidade de todos os cristãos e proteger os direitos dos leigos e sobretudo que se concebam e promovam dinamicamente. Placet: Que a nenhum homem seja negada a dignidade da pessoa humana e que se reconheça a igualdade da mulher na Igreja e que se esteja disposto a levá-la à prática”. Para Rodríguez esta síntese que Gérard Philips faz define a figura eclesial de Álvaro del Portillo e pode considerar-se emblemática do seu combate teológico-canónico.
O Prof. Rodríguez concluiu a conferência com as palavras que João Paulo II dirigiu a Álvaro del Portillo para o felicitar pelos seus 80 anos, poucos dias antes da sua morte. O Papa manifestava-lhe que a sua vida tinha sido “um trabalho cheio de fidelidade realizado ao serviço da Igreja santa”.
A próxima conferência da Aula de Teologia sobre Álvaro del Portillo que se realiza no Oratório de Bonaigua em Barcelona será na quinta-feira, dia 27 de fevereiro. O Dr. José Luis González Gullón explicará a relação entre Álvaro del Portillo e São Josemaria.