Faleceu Joaquín Navarro-Valls

Faleceu na tarde desta quarta-feira em Roma Joaquín Navarro-Valls, na sequência de um cancro no pâncreas. O antigo diretor da Sala de imprensa da Santa Sé expirou na sua residência romana, acompanhado pelos fiéis da prelatura do Opus Dei com quem vivia.

Joaquín Navarro-Valls com S. João Paulo II

O velório terá lugar a partir das 16 h desta quinta-feira na Basílica de Santo Eugénio (viale delle Belle Arti 10, Roma). O funeral será celebrado por Mons. Mariano Fazio, vigário geral da prelatura do Opus Dei, na sexta-feira dia 7 de julho às 11 h.

Cartagena, Granada, Barcelona

Joaquín Navarro-Valls nasceu em Cartagena (Espanha) no dia 16 de novembro de 1936. Frequentou a “Deutsche Schule” da sua cidade natal e fez os estudos superiores nas faculdades de Medicina das Universidades de Granada e Barcelona. Foi assistente na Faculdade de Medicina da Universidade de Barcelona e encarregado do Serviço Policlínico no Departamento de Patologia Médica.

Joaquín Navarro-Valls entrou em relação com o Opus Dei quando, sendo estudante de Medicina em Granada, pediu um lugar no Colégio Mayor Albayzín. Nesses anos de estudo na universidade, dedicou-se bastante ao teatro, não só como espetador mas, sobretudo, como ator. Após terminar o curso em Barcelona, regressou a Granada. Entretanto, tinha pedido a admissão no Opus Dei e ao regressar à cidade andaluza foi-lhe entregue, precisamente, a direção daquele mesmo Colégio Mayor em que tinha sido residente.

Da medicina à comunicação

Depois de terminar o curso de Medicina fez a especialização em Psiquiatra. Para não abandonar as suas inquietações literárias, fez também os estudos de Jornalismo, que completou em 1968. Alguns anos mais tarde, a sua atividade como jornalista dar-lhe-á acesso ao trabalho pelo qual ficaria a ser mais conhecido.

Joaquín Navarro-Valls, com S. Josemaría Escrivá

Nos anos sessenta, foi secretário da Delegação do Opus Dei em Barcelona e colaborou generosamente no arranque de diversas iniciativas apostólicas, sociais e educativas, na Catalunha e Aragão. Os promotores diretos do Colégio Xaloc, na L’Hospitalet de Llobregat, a cidade mais populosa da cintura operária de Barcelona, não deixaram de salientar quanto devem ao impulso tenaz e otimista que receberam, naqueles primeiros momentos, de Joaquín Navarro-Valls. Foi também um dos impulsionadores do início do trabalho de formação com famílias na cidade de Tarragona.

No início dos anos 70 foi para Roma e colaborou com S. Josemaría Escrivá nas tarefas de comunicação do Opus Dei

No início dos anos 70 foi para Roma e colaborou com S. Josemaría Escrivá nas tarefas de comunicação do Opus Dei, em que lhe coube informar o falecimento do fundador (26 de junho de 1975) e a eleição do sucessor, o agora Beato Álvaro del Portillo. Anos mais tarde, dias antes da canonização do fundador do Opus Dei, escrevia estas palavras no Osservatore Romano: “Josemaría Escrivá faz-nos ver que o santo não se move num mundo de sombras e de aparências, mas neste nosso mundo de realidades humanas e concretas, em que há um ‘algo divino’ que ‘já está lá’ à espera que o homem saiba encontrá-lo”.

Em Roma também trabalhou como correspondente do diário ABC. Esse cargo compreendia os países do Mediterrâneo oriental, o que o obrigou a viajar com frequência aos países do Médio Oriente. Fez muitas amizades entre os seus colegas, e em 1983 foi eleito presidente da Stampa Estera, a associação de correspondentes estrangeiros na Cidade Eterna.

Com S. João Paulo II e Bento XVI

Em 1984, S. João Paulo II nomeou-o diretor da Sala de imprensa do Vaticano. Desde então, a sua figura ficou associada à do Papa Wojtyla até à sua morte em 2005, e depois também à de Bento XVI, com quem continuou a desempenhar o mesmo cargo durante os quinze primeiros meses do seu pontificado.

Com o Beato Álvaro del Portillo.

A sua relação com S. João Paulo II foi muito estreita: o Papa encarregou-o de missões delicadas diante de figuras como Gorbachov ou Fidel Castro, e com ele e outras poucas pessoas passou durante muitos anos alguns períodos de veraneio e repouso na montanha.

“Depois de tantos anos, pensa que vale a pena complicar a vida no Opus Dei?”; “A cento e cinquenta por cento”

Tinha uma sincera veneração por João Paulo II. “Tenho consciência de que terei que prestar contas a Deus — dizia em 1993, ainda em vida do pontífice polaco — pela imensa sorte de ter podido trabalhar próximo de um homem, em cujo ambiente se apalpa a existência da graça. Melhor dito, apalpa-se na profundidade da sua oração e nas decisões que toma como consequência dessa oração”. A sua comoção nas horas prévias à morte do Papa, no dia 1 de abril de 2005, ficou imortalizada pelas câmaras de televisão.

Em 2006, ao fazer setenta anos, foi substituído na Sala de imprensa da Santa Sé pelo padre Federico Lombardi. Depois colaborou por algum tempo como colunista do diário La Repubblica e em várias televisões italianas e internacionais. Nos últimos anos da sua vida, desde janeiro de 2007, foi presidente do Advisory Board da Universidade Campus Bio-Medico de Roma. Além disso, envolveu-se noutras iniciativas de interesse social e cultural.

Muitos viram na pessoa de Joaquín Navarro-Valls um testemunho de fidelidade à Igreja, à sua vocação no Opus Dei, aos seus familiares e amigos. “Depois de tantos anos, pensa que vale a pena complicar a vida no Opus Dei?”, perguntou-lhe, por exemplo, um jornalista da RAI em 1995, aquando de uma entrevista na televisão. “A cento e cinquenta por cento”, respondeu.