Na festa de S. Josemaria: o nosso trabalho, espaço da ação de Deus

Apresentamos a homilia pronunciada pelo prelado do Opus Dei na festa de S. Josemaria em Roma.

O prelado do Opus Dei na basílica de S. Eugénio (Roma)

Homilia na festa de S. Josemaria

Mons. Fernando Ocáriz, prelado do Opus Dei

Basílica de S. Eugénio, Roma, 26 de junho de 2017

Ao recordar hoje a mensagem do chamamento universal à santidade e ao apostolado, de que S. Josemaria foi porta-voz durante a sua vida terrena, o nosso coração enche-se de alegria e de agradecimento a Deus Nosso Senhor.

A oração Coleta que a Liturgia nos propõe destaca esta verdade proclamada pelo Concílio Vaticano II e, referindo-se a S. Josemaria, acrescenta: «Concedei-nos, por sua intercessão e exemplo, que, através do trabalho quotidiano, nos identifiquemos com Cristo, vosso Filho». Esta petição resume, de certa forma, o nosso caminho na Terra: parecer-nos cada dia mais com Jesus, através de uma atividade que nos é tão familiar como o trabalho.

O Espírito Santo é realmente o protagonista deste caminho de santidade na vida quotidiana.

A luz da fé amplia os horizontes do nosso trabalho: faz-nos ver que o homem foi criado por Deus e posto “no jardim do Éden para o cultivar e o guardar” (Gn 2, 15). A terra é confiada aos seres humanos como um jardim que se deve cultivar e cuidar em cada dia, um contexto cheio de potencialidades, que devemos descobrir e desenvolver para a glória de Deus e ao serviço dos nossos irmãos.

O Espírito Santo é realmente o protagonista deste caminho de santidade na vida quotidiana. Como S. Paulo diz aos Romanos: “Recebestes um espírito de filiação, pelo qual clamamos: Abba, Pai!” É um grito, uma oração que o Espírito Santo põe nos nossos lábios, e que podemos repetir ao longo do dia, por exemplo, quando sentimos o cansaço na nossa atividade profissional e temos de continuar a trabalhar. O facto de nos sabermos filhos de Deus anima-nos a rezar e a servir a todos, a não ficar indiferentes perante aqueles que sofrem por situações diversas, como o desemprego ou um trabalho em condições precárias.

Ele entra nas nossas vidas da mesma forma que entrou na barca de Pedro e dos seus colegas de trabalho.

A luz do Espírito Santo faz-nos encontrar Jesus, que sai ao nosso encontro, como saiu a procurar os primeiros discípulos junto ao Lago de Genesaré. Ele entra nas nossas vidas da mesma forma que entrou na barca de Pedro e dos seus colegas de trabalho. E a mesma barca que tinha testemunhado um fracasso profissional – uma pesca em que não tinham apanhado nada – torna-se a cátedra do Mestre, o espaço a partir do qual Ele revela os mistérios do Reino de Deus. Mais ainda, nesse mesmo barco começa uma aventura sobrenatural, prefigurada pela pesca milagrosa. A presença de Cristo transforma o nosso trabalho, a nossa velha barca, no espaço da ação de Deus. E isto pode fazer-se com gestos simples mas cheios de caridade: ajudar um colega que não nos cai tão bem mas que precisa de uma sugestão prática para acabar bem o que está a fazer; ou dedicar talvez alguns minutos a uma pessoa, se percebemos que precisa de falar, porque o seu rosto reflete alguma preocupação.

A presença de Cristo transforma o nosso trabalho, a nossa velha barca, no espaço da ação de Deus.

O Senhor pede-nos que sejamos instrumentos nas Suas mãos, para levar alegria e felicidade a este mundo que tanto disso precisa. E dirige-nos o mesmo convite que fez a Pedro: “Faz-te ao largo, e vós lançai as redes para a pesca” (Lc 5, 4). Desta vez, as redes são lançadas naquele trabalho impregnado pela graça divina, para que se transforme um espaço de testemunho cristão, de ajuda sincera aos nossos colegas e a todas as pessoas que acompanhamos. A este respeito, podemos recordar o convite do Papa Francisco: «Quando os esforços para despertar a fé entre os vossos amigos parecerem inúteis, como a fadiga noturna dos pescadores, lembrai-vos que, com Jesus, tudo muda. A Palavra do Senhor encheu as redes, e a Palavra do Senhor torna eficaz o trabalho missionário dos discípulos» (Discurso, 22-IX-2013).

O Espírito Santo, que habita em nós, levar-nos-á, se Lho permitirmos, a remar mar adentro, isto é, a entrarmos pelos horizontes apostólicos que se descobrem em cada dia: na família, no ambiente profissional, no relacionamento com os nossos amigos e conhecidos. Repetir-se-ão os milagres, como S. Josemaria declara: «Ao sair para o mar com os discípulos, Jesus não pensava só nesta pesca. E por isso, quando Pedro se lança a Seus pés e confessa com humildade: Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador, Nosso Senhor responde-lhe: Não tenhas receio, de futuro serás pescador de homens (Lc 5, 10). E nessa nova pesca, também não faltará a eficácia divina pois, apesar das suas misérias pessoais, os Apóstolos serão instrumentos de grandes prodígios» (Amigos de Deus, n. 261). Porque também nós devemos ser apóstolos, apóstolos no meio do trabalho e de todas as realidades humanas que procuramos levar a Deus.

Nossa Senhora é a Rainha dos Apóstolos. Assim a invocamos na Ladainha do Terço. Peçamos-lhe que nos ensine a colaborar ativamente na missão da Igreja para a salvação do mundo. Este era o desejo que S. Josemaria guardava no seu coração: colocar Cristo no centro e na raiz de cada atividade humana, em união com toda a Igreja: “omnes cum Petro ad Iesum per Mariam!