Maria Sofia Pacheco: 87 anos de vida, quase 63 no Opus Dei

A primeira portuguesa do Opus Dei faleceu no passado dia 25 de Janeiro, depois de vários meses de doença no quarto da casa onde vivia no Porto.

Conheceu o Opus Dei através do seu irmão Mário, também ele o primeiro numerário português, que lhe mostrou a primeira edição portuguesa do livro Caminho, de Josemaria Escrivá. Na altura, sugeriu apenas um modo de aproveitar: ler devagar e pensando no que lia.

A Maria Sofia confessa, nuns apontamentos que em 2008 escreveu sobre os seus primeiros anos na Obra, que não conseguiu seguir o conselho do irmão. “Cada ponto marcava-me com força, era uma dimensão da vida totalmente nova para mim, uma cristã medíocre dos anos 40”.

Essa «cristã medíocre» era uma pessoa que decidira ter direção espiritual regular, com hábitos de vida de piedade, com um trabalho profissional intenso numa empresa, e com a perspetiva de um casamento próximo no horizonte, pois o seu namoro durava há seis anos.

A 13 de Março de 1949, enquanto atravessava a Rotunda da Boavista, (...) ficou claro que Deus lhe pedia que fosse numerária do Opus Dei. Informado o diretor espiritual, escreveu uma carta a S. Josemaria a contar a sua decisão. Tinha 25 anos.

Conheceu vários amigos do irmão e apercebeu-se, pelo seu comportamento, que havia uma relação entre o que lia no Caminho e esses rapazes novos que viviam nos poucos Centros do Opus Dei. Começou a intuir que esse também era o seu caminho e dirigiu-se ao diretor espiritual que, apreciando o livro, lhe abriu a possibilidade de ser isso o que Deus queria dela, aconselhando-a a fazer um retiro.

A 13 de Março de 1949, enquanto atravessava a Rotunda da Boavista, no seu interior ficou claro que Deus lhe pedia que fosse numerária do Opus Dei. Informado o diretor espiritual, escreveu uma carta a S. Josemaria a contar a sua decisão. Tinha 25 anos.

Em Julho desse ano passou em Santiago de Compostela os seus primeiros dias de formação intensa, juntamente com outras jovens.

Somente dois anos mais tarde, em 1951 chegaram a Lisboa aquelas mulheres enviados pelo fundador para iniciarem estavelmente o trabalho apostólico. Primeiro a Ester Teijeira, galega, e dois dias depois, mais três.

Toda a história das mulheres que vieram à Obra nesses primeiros anos tem a Maria Sofia no seu centro, de algum modo. As pessoas que compareceram no seu funeral na igreja da Lapa, no Porto, foram uma amostra dessa diversidade.

Em 1956, foi para Roma, onde colaborou de modo mais direto com S. Josemaria na direção dos apostolados da Obra com a juventude. Regressou a Portugal em 1961, e continuou a apoiar, com a sua entrega abnegada, todos os trabalhos que lhe foram confiados, primeiro na assessoria regional, e depois em diferentes centros do país.

Ela, que por amor a Deus deixou para trás um amor de juventude, haveria de passar boa parte dos seus dias a ajudar muitas mulheres casadas a viver com exigência a sua vocação cristã. Distinguia-se pela sua afabilidade, por ter sempre uma palavra amável para com toda a gente. De educação esmerada e sempre atenta ao que se passava no mundo da informação, escreveu ao longo da vida vários artigos a comentar ensinamentos de S. Josemaria, a explicar o que tinha vivido de perto: o modo como o Fundador se apoiava no que a mulher está chamada a dar ao mundo e à Igreja.

Dedicou muitos verões a colaborar na formação mais intensa de outras pessoas da Obra, aproveitando as férias do trabalho. Assim foi, sem cansaço, até ao verão de 2011, em que já não pôde fazê-lo.

Nas notas que deixou do seu período romano, destacou um episódio familiar. S. Josemaria, olhando-a com carinho, disse-lhe:- Tu não gostas de usar óculos! Efetivamente, assim era, mas nunca o tinha referido. E pouco depois, o Fundador do Opus Dei falou com Encarnita Ortega, então secretária central e cujo processo de canonização já se iniciou, para que lhe sugerissem fazer uma cirurgia que já tinha dado bons resultados no caso de uma pessoa conhecida. Assim fez, e durante vários anos, conseguiu não usar óculos.

D. Javier Echevarría, atual Prelado do Opus Dei, referiu-se ao vazio que deixa, por ter sido a primeira numerária portuguesa. A convicção de muitos é que, pela sua vida fiel e abnegada, já estará na intimidade de Deus, a Quem se entregou, e na companhia de alguns com quem privou na terra.