Passaram já muitos anos desde a altura em que trabalhei como professor no Colégio Altocastillo, em Jaén (Espanha). Procurei sempre com muito interesse que os meus alunos e as suas famílias desenvolvessem a virtude da solidariedade, ajudando-os a tomar consciência do muito que nós possuímos e do pouco que, infelizmente, outros têm.

Sem descurar as minhas tarefas escolares quotidianas, e com a ajuda de alguns pais, começámos a envolver-nos nalgumas atividades de solidariedade que permitiram aos seus filhos experimentar como outras pessoas sofrem, estão sós ou são pobres, adaptando cada atividade às idades dos participantes.

Desde então, em cada ano escolar, fazemos campanhas de recolha de alimentos; pagamos despesas urgentes de famílias carenciadas; acompanhamos pessoas sem-abrigo, levando-lhes cobertores, alguns tempos de conversa e de café; visitamos pessoas idosas que se sentem sós; contribuímos para campanhas que visam ajudar países do terceiro mundo.

Em 2014, criámos a nossa própria ONG, com sede na escola. Chamámos-lhe Cooperação Escolar (Schooling Cooperation). Tornámo-nos uma escola que ajuda outras escolas com mais necessidades.

E a partir daí, temo-nos envolvido em projetos de solidariedade nossos: começámos por colaborar com a Fundação Takeli, no Togo, dirigida por Ramon, um supranumerário que nos orientou desde o início da ONG. Elaborámos um plano de desenvolvimento para a zona de Tchebebé e Bodjoundé, instalando um poço de água alimentado por painéis solares. Ajudámos a desenvolver uma escola em Bodjoundé e uma escola profissional em Tchebebé. Fornecemos eletricidade com energias renováveis a algumas salas de aula, o que teve também um impacto em toda a área. Ampliámos o primeiro poço, porque o seu tamanho não era suficiente. Criámos uma exploração avícola. No ano passado, fornecemos novos uniformes escolares a todas as crianças das duas cidades. Para além do Togo, também estivemos envolvidos na Costa do Marfim, no Congo e em Marrocos.

As famílias de Altocastillo têm apoiado muito cada uma destas campanhas, e fazem questão de que os seus filhos participem nelas, desde os mais novos aos mais velhos, porque compreendem que se trata de uma das mais importantes lições que pode marcar a vida de uma pessoa. Todos os anos organizamos jantares de beneficência, paellas, e muitas outras atividades em que muitas famílias do colégio participam.

No inverno passado, entrei em contacto com Javier. Está envolvido num projeto com a tribo Turkana, no Quénia. Esta tribo vive num dos locais do mundo mais afetados pelas alterações climáticas, onde há fome, desertificação e onde é preciso escavar no chão para conseguir ter água.

Dados os grandes problemas que estas pessoas enfrentam, estamos a planear ajudá-las a construir um edifício que pode albergar até 200 crianças, e a criar um centro de educação pré-escolar onde a maior parte das necessidades básicas das crianças da zona poderão ser satisfeitas, melhorando assim o seu dia a dia difícil. As crianças terão educação, alimentação e cuidados médicos, para combater a subnutrição que afeta a maioria delas.

Desde o primeiro momento em que pisámos o solo de Turkana, percebemos que, desta zona muito especial do planeta, podem sair pessoas capazes de mudar o curso da sua própria história e das nossas. Este é o nosso novo objetivo!